sexta-feira, 1 de maio de 2009

Cinema: Presságio de Alex Proyas



As cenas inciais de Presságio (Knowing. EUA, 2009) são suficientes para nos prender a atenção: em 1959 um grupo de crianças, estudantes de uma escola estadunidense, coloca numa cápsula do tempo cartas dos seus pensamentos sobre o futuro, para serem abertas por outras crianças 50 anos depois. No entanto, embora a grande maioria das cartas conste de desenhos das crianças imaginando como seria o mundo 50 anos no futuro, uma delas escreve longas seqüências de números. E é justamente esta carta que, na cerimônia de abertura da cápsula, em 2009, Caleb (Chandler Canterbury) filho do viúvo e professor universitário de astrofísica John Koestler (Nicolas Cage), é induzido a escolher. Questionado pelo pai o porquê de não ter entregado a carta à escola, conforme estava programado na cerimônia, Caleb responde que ela poderia ser importante — por se tratar de uma carta totalmente diferente das outras. Argumento este que, a princípio, não convence o pai. Entretanto, este último demonstra interesse repentino quando, entre goles de uísque, resolve averiguar aqueles números. Desta forma ele descobre o seu verdadeiro e trágico significado.
Daqui por diante me contenho em contar mais detalhes, pois, me arriscaria involuntariamente a expor spoilers desnecessários, além de que, um dos grandes méritos do filme são as revelações às quais ele nos informa gradativamente até seu inesperado ápice final. O que me levou a assistir este filme foi um antigo trabalho do diretor Alex Proyas (igualmente dirigindo este), o sombrio (em todos os sentidos, até mesmo na obscuridade diante de outros trabalhos do mesmo diretor) e excelente Cidade das Sombras. A meu ver, Presságio ainda é aquém a Cidade das Sombras, pois, embora traga deste certos elementos, ele parece se perder no seu tom hollywoodamente (ou deveria dizer: spilbergamente) pretensioso. No entanto, ele ainda é bem superior ao seu filme antecessor, o mediano Eu Robô.
A atuação de Nicolas Cage é o outro, se não, principal ponto negativo do filme. Suas atuações estão cada vez mais caricatas (embora sua atuação neste esteja com menos maneirismos do que a sua interpretação no decepcionante Motoqueiro Fantasma). Ele chega ao ponto de quase comprometer certos momentos da projeção, ameaçando “quebrar o clima” de trechos emocionalmente importantes. Por outro lado, o diretor Alex Proyas consegue manter nossa atenção do começo ao fim sem nos deixar cair no tédio. Ele nos prende não tão somente pela curiosidade, mas por satisfazer essa curiosidade com informações que vão se tornando gradativamente mais surpreendentes.
Embora o final possa parecer um tanto quanto cristão (Em alguns momentos fica claro que o diretor parece ter adaptado passagens bíblicas em pura ficção científica), ele ainda consegue ser um final não tão óbvio como poderíamos ser levados a imaginar pelo andamento dos momentos que antecedem a ele. Mesmo não sendo um filme tão marcante em termos de ousadia e originalidade quanto foi Cidade das Sombras (com seu sedutor clima noir), Presságio ainda nos surpreende e nos prende em seu clima sombrio (clima este muito bem explorado em certas cenas noturnas, na floresta e na melancólica casa onde moram os protagonistas) e, também, por conseguir manter um ritmo que não deixa o espectador perder uma cena sequer, algo raro num filme desse porte que ainda tem o mérito de saber usar os efeitos especiais (que os dólares de Hollywood podem promover) com uma ação manipulada com inteligência.