segunda-feira, 22 de março de 2010

Time Is Progress? Time Is Ilusion...

Por João Batista Bittenrcout*

Você já teve a impressão de que o tempo está passando mais rápido? De que as 24 horas não são suficientes o bastante para realizar todas as atividades que programou durante o dia? Pois saiba que você está certo. Mas não foram as horas que diminuíram, o que mudou foi a maneira como nós estamos nos relacionando com o tempo. Muitos estudiosos, afirmam que tiramos o pé do freio e pisamos fundo no acelerador no início do século XIX, período que data o surgimento da Revolução Industrial. E, desde então, a palavra de ordem tem sido: acelerar. O trabalho - que antes era eminentemente artesanal -, migrou para o interior das fábricas, e conseqüentemente tornou-se o motor da engrenagem do sistema econômico que acabara de nascer. Logo, a velocidade tornou-se a principal aliada dos donos de indústria, que passaram a cronometrar o tempo de produção, visando maior lucratividade. E não foi apenas o tempo de produção que foi esquadrinhado. Mesmo fora da fábrica, o trabalhador passou a organizar a sua rotina tendo como referência as atividades desenvolvidas na indústria. Surgiu assim as noções de “tempo ocioso” e “tempo produtivo”, e desde então, é dessa maneira que organizamos nossa rotina. Não se pode precisar uma data para a origem do fenômeno da aceleração, porém, é consenso, que a guinada tecnológica proporcionada pela revolução industrial foi um grande potencializador do processo. Mesmo conhecendo a lógica perversa do fenômeno, aceitamos sem maiores concessões nossa sina de atleta velocista, e até desejamos isso. Não sabemos para onde estamos indo, nem onde fica a linha de chegada, mas isso não importa, a única coisa que devemos saber, é que precisamos chegar logo. A velocidade nos consome por todos os lados, ninguém quer perder seu precioso tempo com investimentos a longo prazo. Time is money! Time is progress!
Uma prática que nos permite, ou pelo menos permitia fugir dessa lógica predatória é a reflexão. Aquilo que muita gente insiste em chamar de “perda de tempo”. A imagem mais recorrente que eu tenho dessa prática está remetida a filosofia grega, ou para ser mais específico, à figura de Sócrates, o pensador por excelência, aquele que fazia de sua vida um exercício de contemplação incessante. Em nossos dias atuais, podemos dizer que a imagem de Sócrates está relacionada com a do “desocupado” que não tem o que fazer, por isso fica olhando para as estrelas num gozo ocioso. O pensamento tem que ser rápido, contemplação é para perdedores. Mesmo a universidade, que é conhecida popularmente como espaço de produção do “saber” (fiz questão de por saber entre aspas, pois entendo que nem todo conhecimento é saber), entrou na lógica da mercantilização do pensamento, ou seja, produção intelectual em série, cronometrada. Aquele que não produz num curto espaço de tempo, torna-se incompetente em potencial. Se no campo supostamente “intocável” da reflexão, o processo é semelhante ao das indústrias, o que dizer do nosso cotidiano? Em contraposição a imagem do pensador contemplativo, apresento a imagem patética do indivíduo diante de seu computador chateado porque o email está demorando a abrir. Dois tempos completamente diferentes. Aíon versus Cronos. Certamente, estou levando em consideração o processo de desterritorialização brutal que atinge em cheio todos os seres humanos, reconfigurando novos mapas subjetivos, traçando novas linhas desejantes. Não sou um neo-ludita, que abomina o contato com as novas tecnologias, sonhando com o retorno de um paraíso que nunca existiu, a não ser para os “românticos” de plantão. A questão é: o que fazemos com tanta velocidade? Bom, gostaria de escrever um pouco mais sobre essa questão, mas não posso “perder tanto tempo” com o texto de um blog não é mesmo?


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* João Batista é sociólogo. Atualmente faz doutorado na UNICAMP, e é nosso correspondente.